Resenha: A pérola que rompeu a concha, @editoraarqueiro

13 dezembro 2017

Filhas de um viciado em ópio, Rahima e suas irmãs raramente saem de casa ou vão à escola em meio ao governo opressor do Talibã. Sua única esperança é o antigo costume afegão do bacha posh, que permite à jovem Rahima vestir-se e ser tratada como um garoto até chegar à puberdade, ao período de se casar. Como menino, ela poderá frequentar a escola, ir ao mercado, correr pelas ruas e até sustentar a casa, experimentando um tipo de liberdade antes inimaginável e que vai transformá-la para sempre. Contudo, Rahima não é a primeira mulher da família a adotar esse costume tão singular. Um século antes, sua trisavó Shekiba, que ficou órfã devido a uma epidemia de cólera, salvou-se e construiu uma nova vida de maneira semelhante. A mudança deu início a uma jornada que a levou de uma existência de privações em uma vila rural à opulência do palácio do rei, na efervescente metrópole de Cabul. A pérola que rompeu a concha entrelaça as histórias dessas duas mulheres extraordinárias que, apesar de separadas pelo tempo e pela distância, compartilham a coragem e vão em busca dos mesmos sonhos. Uma comovente narrativa sobre impotência, destino e a busca pela liberdade de controlar os próprios caminhos.
 A pérola que rompeu a concha é um livro belíssimo, apesar de ser muito triste. Eu adoro livros animados, bem-humorados e que nos fazem dar risadas, mas também gosto de histórias de superação, de guerreiros. E esse é o caso de duas guerreiras: Rahima e Shekiba.


Ambas nasceram no Afeganistão, mas em épocas diferentes. Shekiba é trisavó de Rahima, porém as semelhanças não acabam por aí: ambas viveram em um país onde as mulheres não têm valor, onde os pais podem fazer de conta que possuem um filho, vestindo uma filha como menino e a fazendo viver como se tivesse outro gênero. Naquele país, ter uma filha é uma maldição, um serviço mal feito pela esposa, e o pai de Rahima foi "amaldiçoado" não uma vez, mas cinco.

Acho que está na hora de mudarmos uma coisa em você. Acredito que seria melhor permitirmos que você seja um filho para seu pai.
- Um filho?
- É simples e as pessoas fazem isso o tempo todo, Rahima-jan. Pense em como você o deixaria feliz! E poderia fazer muitas coisas que suas irmãs não podem. 
Foi assim que Shekiba virou Shekib e Rahima virou Rahim, em parte das histórias. Elas vão se alternando, e você fica ansioso para conhecer ambos os finais, esperando que sejam felizes. Afinal, nossas heroínas eram acostumadas a se calarem; a perderem o direito de herança para seus irmãos, caso houvessem, senão os bens iriam para a família; a levar tapas e socos de seus maridos, de suas sogras e das muitas esposas de seus maridos; a casarem mal saindo da adolescência, com treze, quatorze anos, com homens mais velhos, que queriam apenas um filho, sendo terceiras, quartas esposas; a acreditarem que o que acontece é obra do destino e que não podem mudar a situação. 

Acontece que, felizmente, tanto Shekiba quanto Rahima não eram mulheres de aceitar essa violência e omissão gratuitas. Na verdade, Rahima se inspirou em sua antecessora para "romper a sua concha". Elas não suportavam mais a rotina absurda a que viviam.

Servidos pelas criadas que Abdul Khaliq havia trazido, os homens faziam as refeições juntos na sala do senhor da guerra, um cômodo atapetado repleto de almofadas e travesseiros sobre os quais se reclinavam, lambendo os dedos e bebendo chá em meio a uma discussão dos assuntos do dia. Ao término, as mulheres e as crianças consumiam as sobras. As criadas se alimentavam na terceira rodada, esperando que tivesse escapado comida suficiente dos dedos gananciosos antes delas.

Foi assim que nossas heroínas romperam suas conchas, não mudando o mundo, mas fazendo grandes mudanças no mundo delas. Como eu disse antes, não espere dar risadas com esse livro, é mais provável que ele arranque lágrimas do que suspiros seus....mas a história é belíssima e vale muito a pena ser lida. Se você leu O silêncio das montanhas, sabe do que estou falando. 

Agora você pode conferir um vídeo lindo que a editora publicou em suas redes sociais, sobre esse livro, com o relato da autora, e também um trecho.

Ficha técnica:
Autor: Nadia Hashimi
Editora: Arqueiro
Ano: 2017
Páginas: 300

Semana que vem eu volto com uma resenha sobre A Bela e a Fera! Vai perder? Eu não perderia!

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