Eu estava ali, sentada em uma mesa mais distante das outras esperando a banda entrar no palco, eu ia ali raramente, mas aquela noite decidi me dar esse prazer, sabia que a música que a banda tocaria iria aquecer o meu coração ao ponto de aumentar a temperatura do meu corpo que se encontrava gelado.
Quando os músicos entraram no palco e se posicionaram eu avistei você ao lado, não estava no meio deles o que me levou a pensar que não seria um músico, fiquei intrigada com que papel você exerceria ali, já que percebi que tinha familiaridade com todos ao que estavam ao redor.
Trocava abraços com as meninas que se vestiam lindamente com vestidos que parecia terem saído do século passado e os meninos com suas gravatas borboletas, assim como a sua, que lhe dava um ar de menino inocente.
Quando os instrumentos ganharam vida eu estava dando um gole no copo de vinho que estivera repousado em minha frente, essa escolha também foi na esperança de me aquecer por dentro, retirar as muralhas geladas que insistiam em ficar em volta do meu coração.
Logo o copo voltou ao seu lugar e eu me vi presa naquela apresentação formidável que acontecia em minha frente, a música expressava um sentimento tão profundo em sua melodia que eu não pude deixar de sentir aquilo tomar conta de mim, olhei para as expressões dos músicos e das pessoas ao redor, quando senti o tom mudar, e as pessoas começarem a dançar.
E você estava ali, com seu sorriso fácil no rosto, dançando como se tivesse nascido para aquilo, como se não houvesse outra coisa na vida a não ser aquele momento, o jeito como mudava os pés de lugar e como segurava na mão de sua acompanhante de dança, a dança que além de serem feitas pelos corpos eram feitas pelos seus olhares.
Aquilo me fez ver você, com seus olhos grandes, cor da noite, pretos como um chocolate amargo. Os lábios fartos, os cabelos que estavam curtos, mas não deixa de mostrar alguns cachos que a cada passo que dava teimavam em cair no seu rosto, o que me fez sentir um impulso de ir até lá e tirá-lo dali para aproveitar e admirar a linha de expressão que tinha em seu rosto, rosto de menino, mas que tinha um que de homem e me fez deseja-lo.