Resenha II: A casa do lago, @editoraarqueiro

06 dezembro 2017

A casa da família Edevane está pronta para a aguardada festa do solstício de 1933. Alice, uma jovem e promissora escritora, tem ainda mais motivos para comemorar: ela não só criou um desfecho surpreendente para seu primeiro livro como está secretamente apaixonada. Porém, à meia-noite, enquanto os fogos de artifício iluminam o céu, os Edevanes sofrem uma perda devastadora que os leva a deixar a mansão para sempre. Setenta anos depois, após um caso problemático, a detetive Sadie Sparrow é obrigada a tirar uma licença e se retira para o chalé do avô na Cornualha. Certo dia, ela se depara com uma casa abandonada rodeada por um bosque e descobre a história de um bebê que desapareceu sem deixar rastros. A investigação fará com que seu caminho se encontre com o de uma famosa escritora policial. Já uma senhora, Alice Edevane trama a vida de forma tão perfeita quanto seus livros, até que a detetive surge para fazer perguntas sobre o seu passado, procurando desencavar uma complexa rede de segredos de que Alice sempre tentou fugir. Em A Casa do Lago, Kate Morton guia o leitor pelos meandros da memória e da dissimulação, não o deixando entrever nem por um momento o desenlace desta história encantadora e melancólica.
Antes de iniciar propriamente minha resenha, gostaria de fazer duas considerações. Esse romance esteve por algum tempo no meu Kindle, para ser lido, mas eu protelava a leitura achando que era um thriller ou algo que fosse perturbador. Ledo engano! É um livro com algum suspense, mas nada a ver com o que eu pensava. E mais: o que a sinopse afirma nas últimas linhas é incorreto, pelo menos foi assim para mim. Isto é, adivinhei o desenlace (risos).


O livro começa com Alice Edevane escondendo provas, ou melhor, enterrando-as. Não se sabe o que consta na bagagem enterrada, mas acredita-se que a menina seja culpada de algo. Em seguida, andamos bastante no tempo e nos deparamos com Donald e Sadie, dois policiais. O primeiro incentiva, como amigo, a segunda a tirar uma licença de um mês, até que a poeira baixe. Esse vai e vem é constante, semelhante aos livros de Lucinda Riley, mas preciso confessar que minha autora favorita é melhor do que Kate Morton nisso.

Não que ela não escreva bem, pelo contrário, mas eu prefiro histórias que fiquem por um bom tempo no passado e depois no presente, o vai e vem curto pode deixar o leitor confuso e sem ter o apego devido aos personagens.

Por saber que se meteu em encrencas, Sadie ouve o conselho do amigo e colega de profissão e vai passar uns dias na Cornualha, onde seu avó tem um chalé. Ao correr com os cachorros do avô, como faz todos os dias, a mulher precisa ir atrás de um dos dogs, que aparentemente se perdeu na trilha. Ao encontrá-lo, ela também encontra uma casa abandonada.

Era difícil dizer o que lhe dava tanta certeza, mas, quando se virou para sair, atravessou o buraco na sebe e começou a seguir os cães para casa, ela soube, com aquele frio na barriga - que, como detetive da polícia, era bom que tivesse desenvolvido, - que algo terrível acontecera naquela casa.
Ao fazer perguntas, Sadie descobre que a casa está abandonada há muitos anos, muitos mesmo, porque a família se mudou para Londres após o sumiço de uma criança, praticamente um bebê, o filho mais novo. Isso aconteceu durante a festa do solstício de verão de 1933 e, apesar de todos os esforços da polícia, o garoto nunca foi encontrado.

Passado e presente se tornam um só quando a detetive decide descobrir o que se passou antes, durante e depois do desaparecimento de Theo Edevane. Ela procura Alice, a irmã do bebê desaparecido, que hoje é uma autora de sucesso, para que ambas trabalhem juntas nas pistas, mas isso é tudo o que Alice não quer. Ela acredita que o passado deve ficar no passado. Será Alice culpada? Lembre-se de que ela enterrou "provas" no começo do livro!

Uma propriedade na Cornualha, um caso nunca resolvido. Até o dia de sua morte, Alice nunca conseguiria dizer com certeza se o cômodo ficou frio naquele momento devido a uma brisa repentina da charneca ou se era seu termostato interno, um banho de realidade, o passado a atingindo como uma onda que se recolhera havia muito tempo e esperava a maré virar.
Aí nós passamos um bom tempo no passado, conhecendo a mãe de Alice (e da criança desaparecida), desde que ela conheceu seu futuro marido, Anthony Edevane. O casamento aconteceu em 1911 e a autora nos faz conhecer a vida do casal recém-casado, a ida de Anthony para a guerra, a chegada das várias filhas, enfim, fatos que acontecem na vida da maioria das pessoas. 

Durante a passagem de passado para presente, conhecemos também um médico e pintor, extremamente amigo da família. Contudo, Llewellyn é descoberto morto à beira do lago, alguns dias depois do desaparecimento de Theo. Será coincidência? Remorso? Ele sabe de mais? 

O pai de Theo também figurará entre os suspeitos, e ao ler o romance você saberá o motivo. Será mesmo que um pai assassinará seu filho? A hipótese de morte é grande, afinal mais de setenta anos se passaram e nada apareceu, nem mesmo um osso. Theo desapareceu como fumaça.

Para não alongar mais a resenha, digo a você que uma comitiva se dirigirá à Casa do Lago, também conhecida como Loeanneth. Lá, diários serão revistados, cartas serão lidas, tudo será analisado como pista do paradeiro de Theo. 

O final é surpreendente, com um reviravolta incrível dos acontecimentos. Eu tenho a mente muito ligeira, a imaginação muito fértil, então não sei se foi por isso que adivinhei o final, ou se a própria Kate vai levando o leitor a compreender o desfecho. Independente disso, A Casa do Lago teve um excelente final (feliz?). 


Ficha técnica:
Autor: Kate Morton
Editora: Arqueiro
Ano: 2017
Páginas: 464


Semana que vem voltarei com a resenha de um livro belíssimo, apesar de triste. Estou lendo-o ainda, mas estou adorando conhecer um pouco mais sobre a cultura afegã e seu tratamento com as mulheres. Será sobre A Pérola que Rompeu a Concha!

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