Sinopse: A apenas um dia do casamento de Glorinha e Teófilo, o médico da noiva avisa ao pai dela que seu futuro genro foi flagrado em um incidente homossexual. Esse é o ponto de partida para Nelson Rodrigues desfilar sua genialidade irônica e o humor negro tão característicos de sua narrativa. Escrito por encomenda para Carlos Lacerda, “O casamento”, único romance de Nelson, foi publicado em 1966 e alcançou sucesso extraordinário em poucas semanas. O autor já se preparava para uma brilhante carreira nas livrarias quando foi tomado de surpresa pela notícia da morte de Mário Filho poucos dias após o lançamento do livro. Antes que pudesse se recuperar da perda de seu irmão, o romance foi proibido pelo ministro da Justiça do governo de Castello Branco, tendo sido considerado subversivo e indecoroso.
Olá pessoal tudo certinho?? Pois bem o que dizer de um livro escrito por Nelson Rodrigues?? Nelson fui nada menos que um dos grandes jornalistas, cronista esportivo, e repórter policial que lhe deu matéria prima para escrever grandes peças. O casamento é um romance escrito e assinado por ele de fato, os demais foram todos assinados com pseudônimos.
Então vamos a obra, que é o que interessa! O livro já começa nos dando um tapa na cara de realidade, mesmo que seja a da década de 60. Fiquei imaginando Nelson escrevendo esse e outros livros nessa nossa sociedade da família tradicional brasileira, que só existe nas casas desses extremistas doidos... ah Nelson você teria matéria prima para mais quatro vidas, mas vamos nos ater ao momento.
Com surda cólera, Sabino pensa, como alguém que se justifica ou se absolve: “eu não sou canalha.” Não ia se esquecer nunca mais da cara do sujeito e do seu riso encharcado de saliva
– Sabino! Eu te conheço há trinta anos. E durante esses trinta anos você já me disse, umas quinhentas vezes, que é “um homem de bem”. [...]
– O homem de bem sabe como age, como reage. A decisão é sua.
Então minha gente, o livro se passa praticamente dentro desse universo singular, o casamento, o noivo é ou não gay? O que as pessoas vão pensar se o evento for cancelado? (alguma semelhança com tempos atuais?). Aí para rechear e coroar a história, Nelson coloca todas as mazelas possíveis e imagináveis, tudo que há de ruim no ser humano: Pedofilia, Homofobia, Fofoca e toda sorte de termos que vocês podem imaginar, tem um personagem que se encaixa. Todos os personagens são tão cruamente caricatos que a impressão nítida que tenho é que ele queria de fato chocar, despudorar e quem sabe, envergonhar a sociedade hipócrita que julga o outro sem se dar conta do que faz.
Deixou-se cair na cadeira. O suor encharcava-lhe os cabelos. Que coisa curiosa, estranha, aquele desejo obtuso e retardatário por Noêmia.
Agora uma curiosidade, o livro foi censurado na época da ditadura, informação de domínio público eu sei, mas a Nova Fronteira colocou um adendo no livro contando também essa história, e enriqueceu lindamente a edição. Tem foto da portaria emitida em 12/10/1966 pelo ministério da justiça, tem foto da capa original e uma imagem do cartaz com a adaptação para o cinema. A editora está de parabéns!
Os argumentos da Ditadura eram irretocáveis na lógica de um regime que já havia reunido simpatizantes numa Marcha da Família com Deus pela Liberdade: “pela torpeza das cenas descritas e linguagem indecorosa em que está vazado”, argumenta a portaria.
E não é que o Nelson conheceu o poder da família tradicional “hipócrita” brasileira?? Gente sensacional a obra. Recomendadíssima!!!
Até mais
Ficha Técnica:
Autor: Nelson Rodrigues
Páginas: 272
Editora: Nova Fronteira
Ano: 2016
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