20
set
2016

Resenha: Como Tatuagem, @VerusEditora

20 setembro 2016
Sinopse: Artur é um cara rico, superficial e egoísta. Bonito e popular entre as mulheres, não tem o menor respeito por elas — sua vida amorosa se resume a colecionar parceiras na cama. Essa rotina de prazeres e privilégios é interrompida quando ele sofre um grave acidente de carro. Para ajudá-lo a se recuperar, sua mãe contrata a fisioterapeuta Lúcia.
Desde criança, Lúcia sofre o preconceito que persegue os portadores de vitiligo. Sua mãe sempre esteve presente para apoiá-la e fazê-la enfrentar os obstáculos que a vida lhe impõe. De temperamento doce, porém decidido, Lúcia tem uma consciência peculiar e aguda sobre o mundo. Mas, quando se vê sem o amparo materno, suas certezas desabam.
O encontro de duas pessoas tão diferentes vai gerar muito atrito, mas com o tempo Lúcia e Artur vão descobrir algumas das infinitas facetas do amor e, entre conquistas, medos, perdas e paixões, verão suas vidas transformadas para sempre.
Olá pessoal, hoje venho falar com vocês sobre um livro que me falta um adjetivo, que não me faça parecer piegas, mas na falta dele, sou obrigada a dizer que o livro é maravilhoso. Linguagem clara, sem enrolação e cheio de referências e citações que vão do sarcasmo ao filosófico em questão de um parágrafo ou na melhor das hipóteses, em questão de capítulos.

Artur é típico playboy riquinho, desrespeitoso e fútil. Sempre teve tudo o que quis e como quis do papai ausente emocionalmente, mas presente financeiramente. Sua família até parece estruturada, mas é um grande castelo de cartas pronto para desabar. O cara não tem pudores em destratar e usar as pessoas a seu bel prazer, é o típico personagem a ser odiado do início ao final do livro... Mas senta aí que ainda tem história.
Mas nada disso está acontecendo agora. Não estou na academia. Não estou sobre o tatame. Não estou nem em pé. É só uma lembrança. Só sobrou isso mesmo. Lembranças.
Lúcia sempre teve que batalhar para conseguir as coisas. Seja batalhar com o mundo, lutando contra o preconceito, seja lutando a batalha diária de todo trabalhador que precisa encarar os transportes públicos das grandes cidades, aqui no caso São Paulo, para lidar com o pior do Ser Humano. Ela é fisioterapeuta, batalhou bastante, contou com a ajuda e apoio de sua Mamuska, mas contra o preconceito do mundo ela só pode contar com ela mesma. Lúcia tem vitiligo e isso já a fez sofrer muito pela ignorância alheia, e desde a mais tenra idade.
Pesadelos são como chicletes derretidos grudados no cabelo, tão chatos e pegajosos que se colocam além de qualquer descrição. Será que é por isso que sonho de tem verbo e pesadelo, não? O que é um um pouco injusto. Não com os pesadelos, mas conosco.
O que essas duas pessoas de mundo tão distantes podem ter em comum?? Absolutamente nada... Até determinada parte do livro. A tragédia se abate sobre esses dois em formas completamente diferentes, mas no final será isso que os conectará e o que os fará enfrentar os desafios de serem quem são.

Artur sofre um acidente gravíssimo e precisa definitivamente de um fisioterapeuta, quis o destino que a enfermeira que trabalha com ele conhecesse Lúcia e a indicasse, quando não tem mais sua mãe a ajudá-la e a apoiá-la se vê tendo que agir como ela agiria para provar a si mesma que honraria sua memória. Quando a vizinha menciona o trabalho, o nome reacende alguma coisa em sua mente, mas ela só constatou o estrago quando chegou na casa de Artur.

A saudade pode ser doce ou dolorosa, não importa. Sempre nos faz sentir vivos, mesmo que não pareça ser essa sua intenção. A saudade é como uma onda que arrebenta suavemente na boca do estômago, se espalha pelo corpo e nos afoga suavemente, sem fazer alarde.
Momentos de muita tensão nesse livro entremeados de risada, porque até as explosões de raiva e dor de Artur são sempre permeadas do humor dúbio dele. Sarcasmo apurado com uma esperteza digna das pessoas mais safas. Lúcia apesar de ser a doçura, a educação e a empatia personificadas também tem tiradas excelentes e fica realmente difícil cumprir aquela meta do início da resenha: odiá-lo.

Apesar de seu caráter duvidoso, Lúcia consegue imputar algumas questões bastante importantes, fazendo com que ele comece a questionar o que antes ele achava muito engraçado. Grande evolução de um babaca. Hora de ver a face mais feia e suja da humanidade, uma vez que estando na condição em que se encontra, nem tudo é viável nem tudo é possível para Artur. Quando ele é obrigado a assistir de perto o nível de preconceito que Lúcia é obrigada a lidar ele percebe nitidamente o quão idiota sempre foi, principalmente por ele já ter sido um dos causadores de sua dor.

Ah não pense vocês que ele virou um príncipe de uma hora para outro, porque definitivamente isso não acontece, e aqui sou obrigada a me render completamente ao bom senso do autor de criar um personagem fdp sim, mas que é verdadeiro, é tangível. Ele poderia ser eu ou você sem nenhum exagero, ou aquele nosso amigo sem noção, cheio de besteira, então pense nele na hora em que estiver lendo esse livro. Você tem esperança de seu amigo ser uma pessoa melhor e não perfeita, certo? Esse é Artur.

Apesar das tragédias permearem a história, o livro não é depressivo, ele só é realista ao ponto de você conseguir enxergar todas as situações acontecendo ao seu redor, e esse toque de realismo e sensibilidade me fizeram pensar que, se não tivesse no nome do autor no livro, eu com certeza pensaria que uma mulher o escreveu, devido a profundidade dos sentimentos expostos aqui.

Gostei tanto do livro que tenho tantos quotes selecionados, que pensei se não seria legal fazer uma resenha só deles, acho que o Walter não ia gostar (risos). Com certeza um dos melhores livros que li em 2016, não me causou espanto algum a editora que ele foi publicado, porque ele tem tudo a ver com o perfil da Verus. Sabe Easy e o Breakable... Então o Artur não é um Lucas Landon, mas no final das contas ele precisa viver e sobreviver aos terrores do mundo, assim como Lucas. E Lúcia não é a Jaqueline, mas ela precisa ser forte para se manter em seu foco e em seu caminho e para lutar pelo que quer e precisa.
O destino é um sujeito muito sádico, imaginativo e sem nenhuma noção de vergonha. Numa vida com tantas possibilidades e caminhos, numa cidade tão lotada, eu tinha que reencontrar justamente ele? E desse jeito? É tão improvável que parece um pesadelo. Ou sonho.
Ah e fiquem tranquilos, a comparação é só para mostrar para vocês que devem investir na leitura, porque nem só de autores internacionais se fazem as boas histórias, temos uma aqui Made In Brasil com todos os toques que gostamos nos livros queridinhos dessa editora.

Cinco notas musicais e totalmente favoritado!!!

Ficha Técnica:
Autor: Walter Tierno
Páginas: 308
Editora: Verus
Ano: 2016


Até mais

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